17 abril, 2006

RE-EDIÇÃO

Ou poderia ser rendição.
Rendo-me à saudade, agora sem lágrimas.
Pensei no que colocar aqui hoje e a coincidência se fez... em 17/04/05 este texto estava em um blog que já não existe mais, postado por alguém que agora voa.
Era um momento de dor intensa, de perda...
Agora eu consigo entender a dor, que já não é mais dor...
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O amor no éter
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Adélia Prado
Poesia Reunida
Editora Siciliano
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Meu Deus, me dê a Coragem
Clarice Lispector
Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.Faça com que eu saiba ficar com o nadae mesmo assim me sentircomo se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.
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Bom dia aos passantes!
Aqui, dia cinzento,
vento quase frio.

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