8 anos 100mM

"Morrer é ridiculo"

Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? (...) De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. (...)
* 

Abril é o mês que tem o céu mais lindo do ano - de um azul clarinho, suave, e toda vez que Abril chega, o coração aperta e eu me pergunto: será que com o tempo melhora?

Melhora não é a palavra, porque quando alguém que voce ama sai da sua vida porque morreu, nada, nunca, vai melhorar.
Voce continua vivendo, seguindo em frente, conhece outras pessoas, pode até se apaixonar, mas aquele lugar nunca será preenchido. 

Voce sempre vai se sentar para tomar café, todas as manhãs, e se lembrar de que houve um tempo em que havia uma mão que segurava a sua, um " eu te amo" entre um gole de café e uma mordida no pão...

Outro dia um amigo me convidou para um evento e na volta me deu carona. Caminhamos uns 3 quarteirões e ele me colocou "pra dentro da calçada" e chegando ao carro, deu a volta e abriu a porta pra mim. Naquele momento, em um lugar na minha mente que eu não pude especificar qual era, eu me lembrei: Mauro! Em 24 anos com mM, eu nunca soube o que era andar na beirada da calçada, abrir a porta do carro, puxar a cadeira... Bobagens? Não. Lembranças de um homem que marcou minha vida.

Hoje faz 8 anos que ele morreu... nas minhas mãos. Não lembro todos os dias, não lamento a sua morte, tem dias que me parece que nem existiu. Não, o tempo não está agindo e me fazendo esquecer. É algo muito maior... alguém disse que é assim com as coisas que se tornam eternas. Não sei se é, só sei que eu se eu pudesse, gostaria de ter mais 5 minutos ao lado dele, do meu pai, da minha mãe, da tia São, do meu gato Nininho, do Lé...
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A foto é de uns dias atrás, quando eu entrei na padaria, parei no canto onde mM parava e pedia o café.

Falei pro rapaz que eu estava ali pra ver se meu marido ainda tinha razão quando dizia que era  o melhor café de Campinas.
Ele tirou o café e ficou esperando eu beber. Sorri e disse: ele continua tendo razão! O rapaz sorriu também... e eu fiquei tomando o café, devagarinho, pensando nas tantas vezes que eu estive ali, sem ter a menor idéia do quanto tudo aquilo ficaria marcado na vida, para 100pre.
A saudade não muda com o tempo, nem a ausência será preenchida.
É tão somente a falta, só a falta...