02 dezembro, 2008

RUBEM ALVES



"...
Que será que quer dizer este fascínio com o céu? É estranho, porque o céu nada mais é que um imenso vazio. Se assim não fosse, como poderiam por ele trafegar as nuvens? Os pássaros não poderiam voar - não é isto que é o vôo, um mergulho no vazio? E o arco-íris e as estrelas, não os poderíamos ver.
Vazio: é uma palavra triste, que diz de solidões e distâncias, abandono. Como o deserto onde não mora nada; ou a noite de insônia em que todos fugiram de nós, mergulhados no sono em que estão; ou o quarto irremediavelmente silencioso e quieto, depois da partida.
Mas isto será tudo o que o vazio contém?
Penso nas mãos que se juntam em concha, para acolher no seu vazio a água que corre da bica...
Os braços que se abrem para o abraço, marcando com este gesto o vazio reservado para a pessoa amada que ainda não chegou...
...
E o que dizer do colo? Vazio que acolhe.
Os vazios que acolhem são sempre amigos: o silêncio que não pede palavra alguma, contentando-se com a presença muda; a casa onde se encontra sempre um espaço onde descansemos; o lugar a mais que se coloca à mesa, declaração de alegria, para o hóspede que chegou...
Céu, vazio imenso que acolhe, espaço que se abre para a vida, convidando ao vôo. E os pássaros brincam.
..."
Espaços para voar, Rubem Alves, Correio Popular, 30/11/08

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A foto é para você, Jarbas!

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Bom dia, querentes!
Dá pra liberar o tíquete?

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