25 outubro, 2008

100LUTO




eu sou assim. de lua. não! sou de sol. quando a tristeza se instala ao meu redor eu mergulho fundo, pra voltar à tona rápido, sabe? não consigo ficar remoendo. não nasci pra moenda. problemas dos mais variados me surgem e eu busco soluções óbvias ou não. tem coisas que eu digo que acabam virando realidade (aquela coisa da palavra falada, do universo conspirando...). eu brincava com mauro dizendo que "se" ele morresse eu ficaria de luto por 1 semana se o dinheiro da suiça demorrasse a chegar, caso contrário, o luto seria de 6 meses. tempo mais do que suficiente pra curtir a dor. ele ria e dizia que quando eu recebesse o dinheiro da suiça ficaria surpresa. claro que não existe dinheiro na suiça, era uma brincadeira dele quando eu sonhava com alguma coisa cara (o colar de pérolas - que nem era tão caro assim, com o cruzeiro pelas ilhas gregas, com a corvete vermelha, com a casa na praia...). ontem eu fui à missa. cumprindo um ritual mais pra mim do que pra ele. ele não acreditava em padre, em igreja... e o monsenhor que reza a missa, se esmera em citar os nomes dos 'nossos queridos' que se foram - os 'queridos' que reformaram a igreja de cabo a rabo. algumas vezes ele citou o nome de todos os mortos, mas na maioria quem levou de goleada foram os 'queridos'. e aí criatura cochichava: 'ele não vai dizer o nome do meu pai?'.
até que ontem ela se encheu e disse: "mãe, eu não vou na missa do meu pai. agora só quando fizer 1 ano e não é por ele, porque ele não gostava disto! é muita enganação". não discuto. criatura é um espírito sábio que trouxe para esta vida todo o entendimento acumulado da sua existência. mas eu fui e pela primeira vez não chorei na missa. a igreja é linda e com o horário de verão, os vitrais ficam iluminados pelo sol, criando um jogo de cores nas pessoas. e por não chorar, consegui sentir o que já existia dentro de mim desde o momento em que fechei os olhos de mauro: não há mais luto em mim. durante estes meses, muitas vezes eu me surpreendi pensando em 'como é que pode? ele morreu!'. a morte é uma surpresa estranha. passei a lembrar de certos momentos vividos com ele, mas já não eram lembranças, eram outra coisa que não sei nomear. surreal. trago em mim o amor que eu vivi e sinto ainda por ele. mauro é a referência definitiva em minha vida. nunca vivi tanto tempo, com tanta intensidade - física e emocional, com uma pessoa. ele é único. não haverá tempo pra repetir a dose, mesmo porque o copo será outro - e o vinho também! acordei hoje com a sensação de dona. dona do meu quadrado! obrigada à todos vocês que acompanharam meu luto. minha angústia diante da ausência de mauro. ainda haverá dias de tristeza, eu sei, mas uma tristeza mais azul do que roxa... até o dia em que será branca como a luz que me guia. entendo que vivi um amor raro, que apesar da posse, me sabia livre, que apesar da ausência continua a existir, porque ele, mauro, queria ser feliz. e deve ter sido!

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bom final de semana, querentes!

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