13 agosto, 2007

HAI-KAI (23/169)

Após todos esses anos na estrada, não são apenas as coberturas asfálticas que se tornaram esburacadas pelo uso prolongado. A tez seca, enrugada e quebradiça, de cor avermelhada das queimaduras de sol e que cobrem carnes flácidas e sem tônus, sobre um arcabouço de ossos frágeis e enfraquecidos pela andropausa. Com as mãos trêmulas e já sem qualquer firmeza para empunhar a surrada bengala, ou a velha tinteiro de casco de tartaruga e pena banhada a ouro, o único refúgio que lhe sobra é a cadeira de balanço na varanda do decrépito bangalô. Ao olhar o pequeno afilhado ao seu lado, a lembrança de Nelson Rodrigues lhe põe um sorriso maroto: "a juventude é uma doença que se cura com a idade". E com a voz rouca ele dita ao moleque que rabisca um bloco de notas feito de papel de embalagens de fumo de palha, mais um hai-kai.

Hai-Kai

traços de ancião
olheiras e rugas, e
marcas de expressão



Quem não quiser acredidar também está com a razão pois, além de antigo, alpha é um velhaco mentiroso e sem escrupulos, capaz das mais absurdas invencionices.

por alpha tauri

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