20 outubro, 2006

MOMENTO DIÁLOGO

- Já falei, quero que minhas cinzas sejam jogadas no Mediterrâneo.
- Ah, mãe, muito longe e eu não vou te cremar.
- Como não? É o meu último desejo...!
- Mãe?!
- Pensa bem, você no seu iate, nas Ilhas Gregas, com seu marido, seus filhos, a criadagem... o pôr do sol e o pote de cinzas da mamãe... É capaz de você jogar as cinzas com pote e tudo!
- Se for um pote de ouro, eu jogo as cinzas e guardo o pote.
- Ah, mas o pote é você que vai comprar.
- Não é não! Você compra porque eu já vou ter que ir lá jogar as suas cinzas...

***
Eu sempre falo pra Rapha que a morte é um acontecimento natural, que nós devemos pensar nela, sim, porque é inevitável.
Claro que na maioria das vezes o tom é de brincadeira, palhaçada... mas acredito que ela já tem uma boa percepção, porque quando voltamos ao assunto, sinto que ela refletiu e entende o que eu quero dizer.
Sei que esta não é uma conduta normal, mas eu falo com minha filha sobre tudo, abertamente – sempre lembrando que é a “minha” maneira, “meu jeito” de falar com ela, que outras mães podem pensar e agir diferente.
Procuro agir com coerência e seguir minha intuição. Muitas vezes bato de frente com o pai da criança, que acha que eu não deveria dizer isso ou aquilo, mas fico firme na minha posição.
Até hoje não me arrependi de nada do que fiz em relação à minha filha.
Sei que só o tempo me dará razão.
Ou não.
Mas ser mãe é isso, né? Ir tateando, até que um belo dia, chega-se ao interruptor e... percebe-se que o “deu à luz” faz todo o sentido.
***
Bom dia, querentes!

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